sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Cara Aberta de Henri Boulad para Bento XVI


O jesuíta egípcio mais destacado nos âmbitos eclesial e intelectual, Henri Boulad, lança um SOS para a Igreja de hoje numa carta dirida ao Papa Bento XVI, enviada, aliás, já em 2007. A partir dos finais de 2009, passou a ser conhecida e circula, agora, na Internet.

Eu tomei conhecimento dela apenas ontem e por isso partilho-a aqui agora com vocês.

As reacções à leitura foram muito diversas. Factos são factos, mas sempre filtrados pelos olhos culturais e, neste caso, eclesiais de cada um. A sua valorização é sempre feita a partir do modo como cada um vê a missão da Igreja no mundo. Esta tem, hoje, uma referência incontornável: o acontecimento e os documentos do Vaticano II. No entanto, os pontos de vista de quem deseja regressar à situação anterior ao Concílio e de quem o deseja aplicar, segundo a forma como lê a situação actual do mundo e da Igreja, geram conflitos de interpretação e práticas muito contrastadas. É normal. Não podemos exigir liberdade e pluralismo na Igreja e, depois, esperar que todos apreciem, positivamente, as nossas opções.

Não se conhecem as reacções do Papa e da Cúria a esta carta privada tornada, agora, carta aberta. Há quem diga que, se Henri Boulad a pôs a circular no ano passado, foi porque Roma não lhe ligou. Resolveu ele próprio ampliar os seus destinatários. Seja como for, já lá vão três anos e dir-se-á que está tudo na mesma. Não acredito que este jesuíta fosse tão ingénuo que pensasse que iria, por meio de uma carta, alterar o rumo do pontificado de Bento XVI. Se ele julga conhecer bem a situação mundial da Igreja, não creio que o Papa esteja menos informado.

A carta tornou-se um testemunho aberto da forma como um cristão informado olha para a situação da Igreja nos diferentes países, para as decisões ou falta delas da parte do Vaticano, e como deseja ver alterada a sua situação. Ao torná-la pública, quer mostrar, como resumiu Oriol Domingo, no diário catalão La Vanguardia, que é urgente compreender que o chefe da Igreja universal não é o Papa, mas Jesus Cristo; que a Igreja católica não é o Vaticano nem unicamente latina e romana. É, por essência, múltipla, multiforme, plural e pluralista.

(Esta introdução foi feita a partir de excertos das introduções dos sites:
contribuicoes.blogspot.com e www.abcdacatequese.com)




"Santo Padre:

Atrevo-me a dirigir-me directamente a Vós, pois o meu coração sangra ao ver o abismo no qual se está precipitando a nossa Igreja. Certamente desculpará a minha franqueza filial, inspirada na "liberdade dos filhos de Deus" à qual nos convida São Paulo, e pelo meu amor apaixonado pela Igreja.

Agradecer-lhe-ia também que saiba desculpar o tom alarmista desta carta, pois creo que "são menos cinco" e que a situação não pode esperar mais.

Permita-me em primeiro lugar apresentar-me. Jesuita egipcio libanês de rito melquita, de 78 anos. Desde à três anos sou reitor do colégio dos jesuitas no Cairo, depois de ter desempenhado os siguentes cargos: superior dos jesuitas em Alexandría, superior regional dos jesuitas do Egipto, professor de teologia no Cairo, director de Caritas-Egipto e vice-presidente de Caritas Internationalis para Oriente Médio e África do Norte.

Conheço muito bem a herarquia católica do Egipto por ter participado durante muitos anos nos seus reuniões como Presidente dos superiores religiosos de institutos no Egipto. Tenho relações muito próximas com cada um deles, alguns dos quais são antigos alunos. Por outro lado, conheço pessoalmente o Papa Chenouda III, a quem via com frequencia. E quanto à herarquia católica de Europa, tive oportunidade de me encontrar pessoalmente muitas vezes com algum dos seus membros, como o cardeal Koening, o cardeal Schönborn, o cardeal Martini, o cardeal Daneels, o Arcebispo Kothgasser, os bispos diocesanos Kapellari e Küng, os outros bispos austriacos e outros bispos de outros paises europeus. Estes encontros acontecem devido às minhas viagens anuais para dar conferências pela Europa: Austria, Alemanha, Suiça, Hungria, França Bélgica... Nestas viagens dirigo-me auditórios muito diferentes e aos media (periódicos, rádios, televisões...). Faço o mesmo no Egipto e no Oriente Próximo.

Visitei cerca de cinquenta paises nos quatro continentes e publiquei uns 30 livros em 15 línguas, sobretudo em francês, árabe, húngaro e alemão. Dos 13 livros nesta língua, quiçá tenha "Gottessöhne, Gottestöchter" [Filhos, Filhas de Deus], que lhe chegar pelo seu amigo o P. Erich Fink de Baviera.

Não digo isto para presumir, mas para lhe dizer simplesmente que as minhas intenções fundamentam-se num conhecimento real da Igreja universal e da sua situação actual, em 2009.

Volto ao motivo desta carta, intentarei ser breve, claro e o mais objectivo possível. Em primeiro lugar, umas quantas constataçõess (a lista não é exaustiva):

  1. A prática religiosa diminui constantemente. As igrejas são frequentadas por pessoas cada vez mais idosas que vão desaparecer num prazo bastante curto.
  2. Os seminários e os noviciados esvaziam-se de dia para dia e as vocações desaparecem a um ritmo assustador. O futuro apresenta-se sombrio e não vemos quem virá atrás de nós para melhorar a situação.
  3. Muitos padres deixam o exercício sacerdotal e o pequeno número dos que vão ficando, cuja idade frequentemente ultrapassa a da reforma, são obrigados a assumir o encargo de várias paróquias, fazendo-o de uma maneira apressada e administrativa.
  4. A linguagem da Igreja é anacrónica, aborrecedora, repetitiva, moralizadora e completamente inadaptada à nossa época.Não pretendo afirmar que se deve dizer sim a tudo nem adoptar uma atitude demagoga, pois a mensagem do Evangelho deve apresentar-se com toda a sua exigência e significado. O importante é começar a “nova evangelização” de que falava João Paulo II. E, ao contrário do que muitos pensam, ela não consiste na repetição de tudo o que é antigo e que não interessa a quase ninguém, mas na invenção duma nova maneira de proclamar a fé aos homens do nosso tempo.
  5. Para o conseguir, é urgente uma renovação profunda da teologia e da catequese que devem ser completamente repensadas e reformuladas. Infeliz-mente, temos de constatar que a nossa fé é demasiado cerebral, abstracta, dogmática e que fala bem pouco ao coração e ao corpo.
  6. A consequência é que uma grande parte dos cristãos foram bater à porta das religiões asiáticas, das seitas, da “new age”, do espiritismo, das igrejas evangélicas ou de outras parecidas. Ficamos admirados? Eles buscam noutro lado o alimento que não encontram entre nós, pois têm a impressão que em vez de pão lhes oferecemos pedras.
  7. No que respeita à moral e à ética, as imposições do magistério sobre o casamento, a contracepção, o aborto, a eutanásia, a homossexualidade, o casamento dos padres, os divorciados casados de novo, etc., já não interessam a quase ninguém e provocam nas pessoas cansaço e indiferença.
  8. A Igreja católica que, durante séculos, foi a grande educadora na Europa,esquece que esta Europa se tornou adulta e intelectualmente madura, recusando ser tratada como uma criança que ainda não atingiu a idade do uso da razão. As maneiras paternalistas duma Igreja “Mater et Magistra” passaram de moda e são rejeitadas pela nossa época.
  9. As nações que outrora foram as mais católicas deram uma reviravolta de 180 graus, caindo no ateísmo, no anticlericalismo, no agnosticismo, na indiferença...
  10. O diálogo com as outras igrejas e religiões tem recuado. O progresso constatado durante meio século está actualmente muito comprometido.


Perante tais constatações, a reacção da Igreja é dupla:

  • Ou considera sem importância a gravidade da situação e se consola constatando certos fervores e conquistas no campo tradicionalista ou nos países pobres ou a caminho de um certo desenvolvimento e progresso.
  • Ou invoca a confiança no Senhor que a socorreu em muitas outras crises durante 20 séculos e que vai continuar a ajudá-la também neste momento difícil.


A isso eu respondo:

  • Para resolver os problemas de hoje e de amanhã, não basta refugiar-se no passado nem apoiar-se em amostras sem fundamento sério.
  • A aparente vitalidade da igreja nos continentes em vias de desenvolvimento é falaciosa. Mais cedo ou mais tarde, essas novas Igrejas passarão pelas mesmas crises vividas pelo actual cristianismo europeu.
  • A modernidade é incontornável e foi por a Igreja ter esquecido isto que passa hoje por uma tal crise.
  • Por que razão continuar uma política como um jogo da cabra-cega? Até quando recusar ver as coisas como elas são? Porque é que havemos de tentar salvar as aparências, uma fachada que hoje não consegue convencer ninguém? Até quando continuar nesta teimosia, nesta crispação de recusar todas as críticas, em vez de ver nelas uma ocasião de se renovar? Até quando iremos adiar uma reforma que se impõe imperativamente e que já tardou demais?
  • Repito o que disse no princípio: é pouco o tempo que nos fica. A história não fica à nossa espera, sobretudo numa altura em que o ritmo se acelera e tudo anda tão depressa.
  • Qualquer empresa comercial, ao constatar prejuízos ou um mau funcionamento, põe-se imediatamente em questão, convoca peritos, tenta recuperar, mobiliza todas as suas energias para se transformar radicalmente.
  • E a Igreja? Quando pensa ela mobilizar todas as suas forças vivas para uma transformação integral? Vai ela continuar dominada pela preguiça, cobardia, medo, orgulho, falta de imaginação e criatividade, por um quietismo culpável, convencida de que Deus tudo vai arranjar e de que a situação actual acabará por ser ultrapassada como já o foram outras situações, talvez piores, no passado?


O que é que se pode então fazer:
- A Igreja precisa de três reformas urgentes:

  • Uma reforma da sua teologia e da sua catequese, repensando completamente a fé e reformulando-a de uma maneira coerente e compreensível para a sociedade contemporânea.
  • Uma reforma da sua pastoral, abandonando as estruturas herdadas do passado.
  • Uma reforma da sua espiritualidade, inventando outra mística e concebendo os sacramentos de outra maneira, para os incarnar na existência actual e adaptar à vida do homem de hoje. A Igreja é formalista demais. Temos a impressão de que a instituição abafa o seu carisma e de que, para ela, o importante é, ao fim de contas, a estabilidade exterior, superficial, aparente. Corremos mesmo o risco de que Jesus, um dia, nos trate “de sepulcros caiados”.


Para terminar, gostaria que houvesse em toda a Igreja um sínodo geral com a participação de todos os cristãos, católicos e não só, para analisar franca e abertamente todos os aspectos de que lhe falei e outros que poderiam ser sugeridos. Esse sínodo (evitemos a palavra concílio) duraria 3 anos e seria concluído por uma assembleia-geral que faria um resumo de todos os resultados e elaboraria as conclusões.

Termino, Santo Padre, pedindo-lhe para me perdoar tanta franqueza e audácia e solicitando a sua bênção paternal.

P. Henri Boulad, s.j.
henriboulad@yahoo.com

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

João Manuel Serra - O Senhor do Adeus

in Publico.pt, 11/11/2010

"Eu sou o Senhor do Olá"

"Chamam-me o Senhor do Adeus, mas eu sou o Senhor do Olá. Aquele que acena no Saldanha, a partir da meia-noite. Tudo isto é solidão? Essa senhora é uma malvada, que me persegue por entre as paredes vazias de casa. Para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente", escrevia, em Março de 2008, o Expresso sobre João Manuel Serra, salientando: "São quase duas da manhã e os carros não param de lhe apitar. Nem eu de lhes acenar. Só fico triste quando o movimento acaba."

"Venho para a Praça Duque de Saldanha, desde que fiquei nas mãos de não ter ninguém. Nasci aqui perto, na casa da minha avó. Um palacete tão bonito, que o Calouste Gulbenkian quis comprá-lo. Vê-se que foi um menino rico. Sou filho de gente abastada, nunca trabalhei nem entrei numa cozinha", acrescentava o semanário, citando o "Senhor do Adeus".

Em Setembro de 2003, o Diário de Notícias escrevia que João Serra "nunca trabalhou, mas conhece a Europa toda" e "já entrou em dois filmes e até num teledisco".







in Noticias.Sapo.pt, 12/11/2010

Morreu João Manuel Serra, o «Senhor do Adeus»

Era uma figura incontornável da cidade de Lisboa. Acenava a quem passava pelas zonas do Saldanha e do Restelo apenas porque acreditava que, dessa forma, fazia os lisboetas mais felizes. Eles acenavam de volta. João Manuel Serra faleceu aos 80 anos.

João Manuel Serra assumiu por várias vezes nunca ter tido de trabalhar. Vinha de uma família abastada que o deixou com rendimentos fartos e lhe permitiu escolher uma «profissão» diferente.

Todos os dias, o Senhor do Adeus passava horas a fio sob sol ou chuva vendo os carros que passavam e acenando aos condutores. A motivação? Dizia que começou por brincadeira mas que percebeu que aquele trabalho deixava as pessoas mais felizes, distribuía sorrisos.

E se muitos havia que não percebiam e associavam a personagem a um certo grau de insanidade, a maioria retribuía os acenos e, com isso, levava para casa um sorriso no rosto.

João Serra tinha ainda outra faceta pública: era um acérrimo cinéfilo. Tornaram-se célebres, as tertúlias semanais que partilhava com o amigo Filipe Melo, músico de jazz, realizador e autor de banda desenhada. Todos os Domingos à noite, assistiam a uma estreia da semana que era depois comentada no blogue «O Senhor do Adeus».

Ontem à noite, em vez da habitual crítica de João, foi uma despedida que Filipe Melo publicou. «Todos os dias, o João dizia adeus às pessoas. Era assim que assim fazia as pessoas felizes e que as pessoas lhe retribuíam essa felicidade. Era um dos meus melhores amigos, e terei muitas saudades das nossas idas ao cinema e de o ver a sorrir e a trazer alegria a todos os que o rodeavam», recordou o amigo.

A história de João Manuel Serra levou-o ainda a outros caminhos. Desde a criação da estação que assinava uma rubrica de cinema no programa «A Rede», do Canal Q. Teve também direito a surgir na banda desenhada «As Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy», de Filipe Melo e Juan Cavia, e fez participações especiais no filme de zombies «I’ll See You In My Dreams» e na série de televisão «O Mundo Catita», nos dois projectos também sob a bandeira de Filipe Melo.

Os papéis foram agora invertidos. Ficam os lisboetas a despedir-se do senhor que passou a vida a dizer adeus.

Inês Gens Mendes@





segunda-feira, 13 de setembro de 2010

sábado, 11 de setembro de 2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um almoço a 3

Ora bem...
Parece que isto por aqui anda muito parado.
Ainda tentei que o passarinho do Twitter puxasse por mim... Mas também nao sou muito assíduo a tagarelar por lá.
Por isso, a partir de agora, tenho uma nova ferramenta para me ajudar a partilhar-me e a partilhar este meu "olhar o mundo com amor". Essa ferramenta é um telélé com a funcionalidade de enviar para aqui para o blog fotografias e texto 2 segundos depois de serem tiradas e a qualquer hora e em qualquer lugar. Este post ja é um exemplo!
Por isso, vamos a isto...

*************

Começo por partilhar convosco a boa surpresa que tive hoje. Estava eu ja a dirigir-me com uns colegas do trabalho para o shopping onde costumamos almoçar e recebo uma chamada dos meus pais a perguntarem se eu nao gostaria que eles fossem ter comigo para almoçar. Disse que sim, pensando eu que eles estavam por perto. Passado algum tempo chegaram. Tinham vindo da Maia para o Porto de propósito para almoçar comigo!
Vejam lá que privilégio!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

“Neste mundo, é imediatamente evidente que algo de muito estranho se passa. Não se vê uma só casa nos vales ou nas planícies. Toda a gente vive nas montanhas.
 

Em dado momento, os cientistas descobriram que o tempo flui mais devagar à medida que aumenta a distância ao centro da Terra. O efeito é mínimo, mas pode ser medido com instrumentos extremamente sensíveis. Quando o fenómeno se tornou conhecido, algumas pessoas, na ânsia de se manterem jovens, foram viver para as montanhas. É impossível vender casas noutro sitio qualquer.
 

Muitos, porém, não se contentam simplesmente em ter as suas casas na montanha. Para maximizarem o efeito, constroem as suas casas sobre estacas. Por esse mundo fora, os cumes das montanhas estão cobertos de casas dessas, casas que à distância se assemelham a bandos de pássaros gordos de pernas altas e ossudas. Os mais preocupados com a longevidade construíram as suas casas sobre estacas elevadíssimas. Na verdade, há casas que chegam a atingir setecentos metros de altura, empoleiradas nas suas pernas de aranha. Elevação tornou-se sinónimo de posição social. Quando alguém chega à janela da cozinha, e tem de olhar para cima para ver um vizinho, acredita firmemente que esse vizinho vai levar mais tempo a ficar com as pernas enferrujadas, sem cabelo, com a pele enrugada ou sem apetites românticos. Do mesmo modo, quem tem de olhar para baixo, para uma outra casa, tende a considerar os seus ocupantes como envelhecidos, fracos e pouco espertos. Há os que se gabam de ter vivido toda a vida lá no alto, de ter nascido na casa mais alta do cume da mais alta montanha e de nunca lá terem saído. Esses celebram a sua juventude frente ao espelho e passeiam-se nús pelas varandas.
 

De vez em quando, os afazeres do quotidiano obrigam as pessoas a descer do alto das suas casas; mas é à pressa que o fazem - descem a correr por intermináveis escadas, dirigem-se velozes para outra escadaria ou para o fundo do vale, fazem o que têm a fazer e regressam o mais depressa possível às suas casas ou a qualquer outro lugar igualmente elevado. Sabem que o tempo passa um pouco mais de pressa a cada passo descendente e que, por conseguinte, também elas envelhecem um pouco mais depressa. Quando se encontram ao nível do solo, nunca se sentam. Correm de um lado para o outro de pasta na mão ou carregando as compras.
 

Em cada cidade há sempre um punhado de pessoas que não se importam de envelhecer alguns segundos mais depressa que os vizinhos. São as almas aventureiras, as que descem ao mundo inferior e aí passam dias a fio, deitadas à sombras das árvores que crescem nos vales, nadando tranquilamente nos lagos que se espraiam nas altitudes mais amenas, ou simplesmente rebolando-se no chão. Raramente consultam o relógio e nunca são capazes de dizer se é segunda ou quinta feira. E quando os outros passam a correr e troçam delas, limitam-se a sorrir.
 

Com  tempo, as pessoas esqueceram qual a razão por que mais alto é sinónimo de melhor. Todavia, continuam a viver nas montanhas, a evitar tanto quanto o possível os vales profundos, a dizer aos filhos que se afastem das crianças que vivem abaixo deles. Suportam o frio da montanha por tradição e apreciam o desconforto por educação. Estão até convencidas de que o ar rarefeito é bom para a saúde e, por essa lógica, adoptaram dietas restritivas, rejeitando todos os alimentos que não sejam extremamente leves. Como tal, a população acabou, com o tempo, por ficar tão rarefeita como o ar, só pele e osso, nada mais, e precocemente envelhecida.”
Alan Lightman in Os Sonhos de Einstein
 

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

«A tua vida é uma Boa Notícia?»


Oh Deus bom e fiel...
Tu às vezes vens com cada uma...
Se a minha vida é uma boa notícia?
Já ouvi esta pergunta tantas vezes e hoje porque é que tinha de ser diferente?
Se calhar é porque não veio sozinha, mas sim acompanhada dos conselhos sábios do nosso mano Paulo... (Rm 12 e 13)
Caramba!
Ele entrou mesmo na tua lógica...
Ele conhecia bem os cantos ao teu reino...
Já eu... sou tão cegueta... ou "surdeta"... sei lá...
É que, hoje, esta pergunta "A tua vida é uma boa notícia?" fez-me entender ainda melhor que às vezes gasto esforços a mais a arranjar palavras para a Palavra... em vez de levar a Palavra para a minha vida...
Aquela vida do dia-a-dia...
Oh Bom Deus...
Quem me dera que alguns manos meus pudessem um dia vir a descobrir a Boa Notícia que és através da Boa Notícia da minha vida...
Quero que sejas em mim!