segunda-feira, 15 de novembro de 2010

João Manuel Serra - O Senhor do Adeus

in Publico.pt, 11/11/2010

"Eu sou o Senhor do Olá"

"Chamam-me o Senhor do Adeus, mas eu sou o Senhor do Olá. Aquele que acena no Saldanha, a partir da meia-noite. Tudo isto é solidão? Essa senhora é uma malvada, que me persegue por entre as paredes vazias de casa. Para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente", escrevia, em Março de 2008, o Expresso sobre João Manuel Serra, salientando: "São quase duas da manhã e os carros não param de lhe apitar. Nem eu de lhes acenar. Só fico triste quando o movimento acaba."

"Venho para a Praça Duque de Saldanha, desde que fiquei nas mãos de não ter ninguém. Nasci aqui perto, na casa da minha avó. Um palacete tão bonito, que o Calouste Gulbenkian quis comprá-lo. Vê-se que foi um menino rico. Sou filho de gente abastada, nunca trabalhei nem entrei numa cozinha", acrescentava o semanário, citando o "Senhor do Adeus".

Em Setembro de 2003, o Diário de Notícias escrevia que João Serra "nunca trabalhou, mas conhece a Europa toda" e "já entrou em dois filmes e até num teledisco".







in Noticias.Sapo.pt, 12/11/2010

Morreu João Manuel Serra, o «Senhor do Adeus»

Era uma figura incontornável da cidade de Lisboa. Acenava a quem passava pelas zonas do Saldanha e do Restelo apenas porque acreditava que, dessa forma, fazia os lisboetas mais felizes. Eles acenavam de volta. João Manuel Serra faleceu aos 80 anos.

João Manuel Serra assumiu por várias vezes nunca ter tido de trabalhar. Vinha de uma família abastada que o deixou com rendimentos fartos e lhe permitiu escolher uma «profissão» diferente.

Todos os dias, o Senhor do Adeus passava horas a fio sob sol ou chuva vendo os carros que passavam e acenando aos condutores. A motivação? Dizia que começou por brincadeira mas que percebeu que aquele trabalho deixava as pessoas mais felizes, distribuía sorrisos.

E se muitos havia que não percebiam e associavam a personagem a um certo grau de insanidade, a maioria retribuía os acenos e, com isso, levava para casa um sorriso no rosto.

João Serra tinha ainda outra faceta pública: era um acérrimo cinéfilo. Tornaram-se célebres, as tertúlias semanais que partilhava com o amigo Filipe Melo, músico de jazz, realizador e autor de banda desenhada. Todos os Domingos à noite, assistiam a uma estreia da semana que era depois comentada no blogue «O Senhor do Adeus».

Ontem à noite, em vez da habitual crítica de João, foi uma despedida que Filipe Melo publicou. «Todos os dias, o João dizia adeus às pessoas. Era assim que assim fazia as pessoas felizes e que as pessoas lhe retribuíam essa felicidade. Era um dos meus melhores amigos, e terei muitas saudades das nossas idas ao cinema e de o ver a sorrir e a trazer alegria a todos os que o rodeavam», recordou o amigo.

A história de João Manuel Serra levou-o ainda a outros caminhos. Desde a criação da estação que assinava uma rubrica de cinema no programa «A Rede», do Canal Q. Teve também direito a surgir na banda desenhada «As Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy», de Filipe Melo e Juan Cavia, e fez participações especiais no filme de zombies «I’ll See You In My Dreams» e na série de televisão «O Mundo Catita», nos dois projectos também sob a bandeira de Filipe Melo.

Os papéis foram agora invertidos. Ficam os lisboetas a despedir-se do senhor que passou a vida a dizer adeus.

Inês Gens Mendes@





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